Auditório Municipal de Gaia
21h30
O 30º Festival Internacional de Música de Gaia, que decorreu durante os meses de junho e julho, prolonga-se até novembro com a revisitação da ópera-tango de Astor Piazzolla.
Com música de Astor Piazzolla e libreto de Horácio Ferrer, estreou-se na sala Planeta em Buenos Aires, a 8 de maio de 1968, a opereta Maria de Buenos Aires. O Compositor classificou-a de – Operita – e pode até ser catalogada como teatro musical, o primeiro do género de ópera-tango, cujo enredo hermético e esotérico se desenvolve através de uma escrita esdrúxula e surrealista, muitas vezes onírica, esotérica e alucinante, ao longo de 17 quadros, onde alternam secções cantadas, recitadas ou exclusivamente instrumentais, e onde se apresenta a vida, a morte, a ressurreição e a própria maternidade de Maria de Buenos Aires. Esta opereta é normalmente apresentada com um ensemble de onze instrumentistas, dois cantores solistas (soprano e barítono), um ator recitante e um coro pequeno, também ele, recitante.
Na versão agora revisitada, Maria teria sido vítima de uma hipotética tentativa de assassinato nas ruelas suburbanas e sombrias de Buenos Aires, e encontra-se hospitalizada entre a vida e a morte. Este estado de quase-morte será a sua condição existencial ao longo do espetáculo, até ao seu renascimento no final da opereta. Enquanto o seu espírito deambula entre o aquém e o além, a mente alucinada de Maria projeta e revive no palco a história trágica de sua vida de boémia e de subjugação na agitação noturna das ruas de Buenos Aires, dos seus bares e das ruelas dos seus subúrbios. Numa leitura histórico-sociológica, a figura de Maria enquanto Maria-Tango, representa o desejo inadequado das populações masculinas suburbanas de Buenos Aires e a sua deriva sexual e amorosa nos prostíbulos onde convivem com as meretrizes que os frequentam. Por outro lado, Maria, simboliza também, os sonhos e a subjetividade mágica da cidade portenha. A figura de Maria encerra, igualmente, múltiplas leituras e surge frequentemente num sincretismo psicológico e religioso associado tanto à figura da Virgem Maria e à de Jesus Cristo como à da própria condição feminina. Na recriação cénica que agora se apresenta procurou-se encontrar uma unidade que permitisse uma continuidade do fio condutor da narrativa, evitando desta forma a interrupção constante do discurso musical e o retalhamento da própria história de Maria que resulta da separação estanque dos 17 quadros com que normalmente a obra vem sendo apresentada desde a sua estreia.
A presente encenação da história de Maria de Buenos Aires começa com a leitura de um jogo de cartas que anuncia a Maria tudo aquilo que lhe irá acontecer: o seu longo calvário, a sua morte e o seu renascimento através de numa nova incarnação da sua condição feminina, qual Fénix das cinzas renascida. Maria encontra, deste modo, a possibilidade da sua própria transmutação mediante um empoderamento adquirido através da consciencialização da história da sua opressão, abuso e subjugação, o que lhe permite renascer assumindo um novo ser e uma nova existência: consciente, empoderada e libertadora. M/16.
O FIMG é uma iniciativa da Associação Filarmonia de Gaia, com o apoio do Município de Vila Nova de Gaia, Na sua 30º edição, o FIMG decorre de 1 de junho até 6 de julho, contando ainda com uma apresentação especial no dia 23 de novembro. À semelhança do que tem vindo a acontecer nas edições passadas, o FIMG passa por diversos locais icónicos de Gaia, trazendo ao nosso Concelho nomes maiores da música erudita nacional e estrangeira.
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