Auditório Municipal de Gaia
21h30
Epopeia de uma fuga
O maior drama humano dos nossos tempos.
Num mundo cada vez mais em rutura e conflito, onde os êxodos, as guerras e os exílios em massa se multiplicam, escrever sobre refugiados é um ato de alerta, de coragem e de provocação.
A "sociedade global”, tantas vezes sonhada e envolta em utopias de paz e de convivência universal, revela-se, cada vez mais, um mundo onde os fortes, sempre mais fortes, espezinham, massacram e expulsam "os outros”, os que são minoria, diferentes ou, simplesmente, inconvenientes. Multidões são sujeitas a genocídios, a deportações, a fomes e a torturas, com ataques e guerras inqualificáveis, aos olhos de uma comunidade global impotente ou até conivente com todas estas tragédias.
Refugiado é, por tudo isso, um projeto empenhado.
Empenhado, social, política, ética e culturalmente. Obriga-nos a olhar o mundo, os frágeis, os que estão longe, mesmo que, tantas vezes, ao nosso lado.
Leva-nos a sentir que a arte pode e deve estar ao serviço da nossa contemporaneidade e das grandes questões e problemas do mundo atual. Faz-nos regressar à cidadania consciente e ativa, refletindo e provocando o confronto de ideias.
Não se trata apenas de retratar os horrores dos refugiados, mas de dar voz (e ouvidos) ao discurso íntimo que se instala no caminho tortuoso do próprio ser que foge, que se esconde, que atravessa horrores na procura de uma nova vida.
Nós, espetadores e cidadãos que tudo sabemos e a tudo assistimos, o que fazemos perante este sofrimento? Seremos capazes de receber, compreender, acolher? Ou iremos rejeitar e fechar os olhos e a alma em argumentos sem memória e unicamente enraizados nos nossos medos inconfessáveis?
O texto, construído em vários "quadros”, como se de vários olhares se fizesse um mesmo caminho, traduz uma espécie de encontro entre o que observa e o que sofre, o que reflete e o que atravessa e foge, num longo caminho de uma fronteira, num qualquer deserto de guerrilhas, num barco de borracha dum qualquer mar ou numa qualquer operação de fuga e salvamento, onde tantos irão sucumbir a meio do próprio sonho.
É aqui que está o desafio e a pertinência deste projeto: a capacidade de confrontação de todos nós, não apenas perante imagens de crianças mortas, de prédios demolidos pelas bombas ou de intermináveis campos de refugiados que se estendem a nossos pés por todo este planeta, mas também perante a própria alma, o próprio ser que nos estende um olhar, um gesto anónimo e uma humanidade que, recorrentemente, continuamos a negar.
A história deste ser sem nome, deste discurso sem identidade que nos produz todos os discursos, é transformada na própria História da humanidade que volta sempre aos seus demónios e aos seus egoísmos ancestrais.
O espetáculo quer questionar-nos, perguntar-nos para quando a superação da bestialidade e a integração de todos os outros. Não há inocentes neste processo de barbárie crescente de massas que só desejam a paz e o abraço.
O ser que aqui escutamos é universal. Personifica a "tragédia do eterno retorno”, "proclama uma promessa que nunca chega”, "instala em nós a mensagem do desassossego e da perturbação”.
Parado, frente à parede escura do meu futuro, sou o símbolo da miséria de muitos face a prepotência de tão poucos. Sou mais um daqueles que terão de implorar a uma multidão de seres indiferentes a compaixão de uma nova sobrevivência.
Ele não é apenas um refugiado. Ele é todos nós. M/12.
Ficha artística: Paulo Matos, encenação; Rita Lello, direção de ator; Paulo Matos e Susana Francês (violino), interpretação; Alexandre Coelho, direção técnica e criação de luz; Bruno Guerra, criação de cenário e figurinos; Nelson Martins, criação de vídeos; Eduardo Luís Patriarca, criação sonora; Ruben Borges, assistência à criação e operação sonora;
Bilhetes à venda na Ticketline (online e postos de venda) e nas bilheteiras dos Auditórios Municipais (AMG e CTEB).
Programa sujeito a eventuais alterações por motivos imprevistos.
Mais informações através do Tlf. 223 771 820 ou e-mail bilheteira.amg@cm-gaia.pt.